Postado originalmente por
Francisco Bicalho
Telmo, esse é o depoimento mais comovente que já li em qualquer fórum de automóvel, só posso imaginar o valor afetivo desse carro para você. A comparação na minha cabeça é um sítio que herdei da minha mãe e que estava em estado de petição de miséria depois que voltei ao Brasil após 17 anos fora, e as incansáveis obras que fiz para restaura-lo, jardim e tudo. Muito parecida a história, o lugar estava em ruínas e hoje está nos trinques. E o fato da sua avó ter sido influência na decisão de reformar o Bandeirante faz a história mais bonita ainda. O banquinho para sua avó tocou meu coração profundamente. Dava bem um filme essa sua história.
Eu digo isso pra pessoas: Bandeirante não é um carro qualquer. Quem tem um e 'entende' o carro sabe que é uma coisa especial, e o seu Vô Tadeu era parte dessa turma, a nossa turma. Tem gente que quer muito comprar um Bandeirante, e depois que compra vê que não era aquilo que eles pensavam, e vendem. Tem gente que vive, respira, conhece a fundo o Bandeirante, e o carro começa a fazer parte da malha da vida dele ou dela (oi Denise). Eu sonhava em possuir um Bandeirante desde os 12, 13 anos, passava horas dentro deles na feira do Automóvel (esse seu quem sabe?), morei anos fora do Brasil sonhando com um Bandeirante e admirando os TLC que via passando. Meu pai também sonhava em comprar um. Aos 66 comprou um longo, '89 novinho, mandou vir com DH, AC de fábrica. Lembro tão bem, todo durinho, com 4 pneus lagarta. A primeira vez que dirigi foi como se já fosse meu a 20 anos, saí com o carro na maior desenvoltura, meu pai até se assustou no banco do carona. Então meu pai que adorava viajar de carro, na segunda semana pegou a estrada do Rio até Gramado RS para visitar um amigo. Choveu na estrada, o carro super desconfortável, rodando a 85 km/h voltou de viagem exausto e vendeu o carro na semana seguinte. Não ficou nem 40 dias com o carro; vendeu na garantia.
Curiosamente, cinco anos depois, e três meses depois que meu pai faleceu, eu comprei um '89 curto, usado, em 1994. E vinte um anos depois, após trocar quase todas as peças do carro (salvo chassi, lataria e vidros), mas mantendo a integridade estética, eu gosto e aproveito o carro mais do que nunca, e sei que existe um grupo de pessoas que compartilha dessa admiração pelo Bandeirante, um respeito pela coisa que não tem nada a ver com vaidade, com frescura, com preciosismo. É um carro companheiro, como um cão, que te ajuda nas horas importantes, que tira você de roubada, que te leva para lugares onde outros carros não chegam. E que tem história. O Bandeirante hoje tem a 'carga genética' do dono, cada um é diferente do outro porque cada pessoa colocou um pouco dela mesma no carro. Mesmo os originais' tem o toque do dono, e isso diferencia muito o Bandeirante da grande maioria dos outros automóveis, coisa que alias ele não é; é caminhão.
Telmo, meu avô (pai do meu pai) que era médico e pernambucano, trabalhou numa colônia Polonesa no Paraná durante a 1a guerra por uns dois anos; será que os pais do seu Vô Tadeu (ou da sua avó Zilda) e meu avô se conheceram? Olha que esse mundo é pequeno. Outra curiosidade. A gatinha (gata mesmo, felina) da vizinha que possui 8 gatos e 4 cachorros se mudou para a nossa casa 4 anos atrás, ela basicamente 'nos 'adotou' com consentimento e benção dos vizinhos. Eu e minha mulher (não temos filhos) somos apaixonados por ela. Ela é a gatinha mais linda do mundo e se chama Zilda! Além de linda ela é espertíssima, atende pelo nome, é doce e tem os bigodinho mais charmosos do mundo. Veja que olhinhos espertos! Malandrérrima, consegue o que quer da gente... ; ^ )
Abraço grande;
Chico
PS: Acabei de me tocar que a 'dona' original da Zilda é Paranaense (!)