Não nos apuramos para acordar e preparar a tralha para a viagem de retorno. Tínhamos tempo pois a primeira balsa para Puerto Yungay saía do embarcadero Rio Bravo às 13:00 h, que fica a duas horas de Villa O’Higgins. Programamos deixar a cidade às 10:00 h para chegarmos meio-dia no ponto de embarque, o que fizemos.
Mais uma vez tivemos um dia de muito frio e muito sol. A viagem até o embarcadero foi tranquila. Chegamos lá no horário previsto. Aguardamos preparando café e jogando pedras sobre o canal congelado. A camada de gelo devia ter uns 2 ou 3 cm de espessura.
Perto das 13:00 h o ferry chegou quebrando gelo e empurrando as placas contra a rampa de embarque e as margens do canal. Aguardamos pelo desembarque dos que vinham para o sul e embarcamos junto a mais duas caminhonetes e um pequeno caminhão.
Partimos no horário previsto e o ferry seguiu empurrando gelo por todo o percurso. Para nós, que não estamos habituados a navegar e muito menos com uma camada de gelo sobre a superfície da água, foi legal.
Desembarcamos em Puerto Yungay e seguimos para Caleta Tortel, subindo e descendo novamente a pequena serra com seu cânion nos acompanhando. Pegamos a saída para Tortel e fomos margeando o rio que ali é chamado de Cochrane, que é o Baker, o Nef, o Chacabuco e vários outros que descem dos picos nevados, das geleiras e do Campo de Neve Norte, se juntam e deságuam no Pacífico.
Paramos às margens do rio para fotos, apreciando a beleza da região.
Chegamos à Caleta Tortel. Estacionamos os carros na praça central e descemos para as passarelas de madeira que circundam a baía e que dão o charme a esta pequena cidade. Esta estava congelada, com o gelo avançando uns 10 a 15 metros rio adentro. Já não batia sol na vila e isto somado à umidade que subia das águas fazia a sensação de frio ser muito intensa.
Caminhamos por uns bons metros na passarela procurando um local para comermos algo, mas estava tudo fechado. Voltamos à praça, não sem antes tirarmos várias fotos, mas também não encontramos local aberto para fazermos um lanche rápido. Já eram 16:00 h e o sol já baixava. Decidimos então seguir para Cochrane para jantar e dormir no mesmo hotel onde nos hospedamos quando estávamos descendo a Carretera.
Pegamos o pôr do sol quando ainda estávamos na Ruta 7 em uma região com vários lagos na direção do poente. Neste final de dia pela primeira vez em nosso percurso na Carretera Austral surgiram algumas nuvens no céu que ganharam tons dourados com o sol se pondo, o que transformou a paisagem deixando-a mais bonita do que é. Foi uma bela despedida da Carretera.
Chegamos em Cochrane já noite. Fomos ao hotel onde queríamos ficar mas para nossa surpresa não havia ninguém lá. Devido à baixa procura nesta época do ano o hotel estava fechado. Procuramos outro pela internet e vimos que dobrando uma esquina havia uma boa opção. Fomos até lá. O dono nos atendeu, mas disse que não estava recebendo hóspedes devido ao congelamento de água nos canos que alimentavam os banheiros. O frio tinha sido bravo mesmo nesta semana. Nos indicou um conjunto de cabanas rua acima. Fomos até lá e vimos que estava fechado. Em frente havia um mercado e uma placa indicando que alugavam cabanas. Entramos ali e negociamos as duas que tinham, cada uma com dois quartos, lareira e muita lenha, fundamental, pois o frio estava muito intenso.
Nos acomodamos e saímos para jantar no restaurante onde tentamos ir quando da primeira passagem por Cochrane. Comida razoável. Fora da temporada esta cidade não oferece bons serviços, o que é compreensível.
Nos recolhemos. No dia seguinte percorreríamos o último trecho da Carretera Austral desta viagem e entraríamos na Argentina. Felizes por termos visto o que vimos e ansiosos para retornar.