Primeiro dia realmente frio. Planejamos sair por volta das 8:00. Preparamos um rápido café e fomos ajeitar as viaturas, que estavam congeladas.
Aí bateu a falta de pensar.
Aqui no sul do Brasil é comum que os para-brisas dos carros amanheçam cobertos de gelo em alguns dias no inverno. O que fazemos aqui? Jogamos um pouco de água, ligamos os limpadores e pronto.
Fizemos o mesmo lá em Villa Santa Lucia. A pequena diferença é que em nosso país a temperatura pela manhã, nestes dias mais gelados, já está acima de zero grau quando vamos sair com os carros, e lá no Chile a temperatura está bem abaixo de zero e fica assim por muitas horas. Não adianta nada jogar água no para-brisa pois ela congela quase que imediatamente.
Fizemos o procedimento brasileiro de jogar água nas superfícies congeladas, carregamos os carros e saímos com os vidros ainda cobertos de gelo. Até algumas maçanetas das portas, que nos Defender não são grande coisa, deixaram de funcionar devido ao congelamento da água em seu interior.
À medida que íamos descendo a Carretera uma forte neblina cobria a paisagem e congelava nos para-brisas. Os inteligentes iam jogando água nos vidros, a água congelava, jogávamos mais água que congelava até que percebemos a bobagem.
Como se resolve este problema de congelamento nos para-brisas? Com o ar quente do veículo. Óbvio. O que se faz é ligar o ar quente e esperar que o para-brisa se aqueça, impedindo assim a formação do gelo. Simples. Só que o ar quente dos dois Defender não estava funcionando. Ar quente lá não é questão de conforto, é de segurança.
Resolvemos raspando o gelo que se formava tanto por fora como por dentro dos vidros com um pedaço de papelão (e depois com cartões de banco e de telefone que não estavam mais operantes) e enxugando bem com panos bem secos. Por 10 dias fizemos esta operação pelas manhãs e ao longo das primeiras horas de deslocamento. Mas não se viaja pela Carretera Austral no inverno sem ar quente na viatura. Lição número 1.
Paramos em La Junta e abastecemos os veículos. Fizemos um lanche mais reforçado e fomos seguindo para Puyuhuapi. A neblina subiu um pouco e começamos a ver as montanhas cobertas por neve acompanhando a estrada.
Passamos por esta cidade e chegamos ao Parque Nacional Queulat. O plano para este dia era caminhar até o último mirante do Ventisquero Colgante. Para nossa surpresa o parque estava fechado, pois era segunda-feira e este é o dia de descanso para quem trabalha lá.
Esta foi uma das frustrações que tivemos. Sempre que fazemos este tipo de viagem sabemos que estamos sujeitos às condições de clima e outros fatores que não controlamos e que podem atrapalhar o planejamento, impedindo que se faça algo que estava em nosso radar. Paciência.
Provavelmente não conseguiríamos desfrutar tudo que o Ventisquero poderia nos proporcionar uma vez que a neblina ali estava muito intensa, mas mesmo assim saímos do Parque com um gostinho ruim na boca.
Decidimos então ir até Puerto Cisnes para almoçar. Esta é uma pequena e agradável cidade às margens de um fiorde, e chega-se até ela por uma bonita estrada que vai margeando o rio Cisnes. O tempo havia melhorado e o sol estava brilhando forte, proporcionando belas vistas do rio e das montanhas que formam seu vale.
Entre o Parque Queulat e a saída para Puerto Cisnes há um trecho na Carretera que sai do nível do mar para uns 600 metros de altitude por uma subida de poucos quilômetros de extensão. Fomos subindo e a neve acumulada ao lado e sobre a rodovia foi aumentando, até que no ponto mais alto paramos para fazermos algumas fotos. A neve estava bem fresca, ainda caía dos galhos das árvores com a força do vento. Foi um dos locais mais interessantes pelos quais passamos.
Chegando em Puerto Cisnes fomos a um pequeno restaurante à beira mar onde comemos salmão, salada e lentilhas. Ali conversamos e decidimos que nosso destino neste dia seria Coihaique. Fizemos reserva em um hostel nesta cidade e seguimos viagem, retornando para a Carretera Austral.
Chegamos em Coihaique no início da noite. Achamos nosso hostel (Hostal Español) e encontramos quartos muito agradáveis e principalmente muito bem aquecidos. Depois de congelarmos na cabana em Villa Santa Lucia precisávamos de uma noite mais normal.
Perguntamos onde havia um restaurante que servia cordeiro, recebemos boa indicação e fomos para lá.
Aqui uma observação: no período de nossa viagem muitos restaurantes e hotéis ainda pediam que mostrássemos nossos passes sanitários, que foram feitos on line no site mevacuno.cl e no qual registramos as vacinas contra covid que tomamos. Alguns locais não permitem acesso de pessoas que não apresentem este passe.
Um bom jantar com cordeiro patagônico no Fogón Puesto Viejo, empanadas, salada e vinho fechou o dia.
Boa tarde. Boa parte da Carretera já está asfaltada. Em sua parte inicial há um pequeno trecho entre Puyuhuapi e a saída para Puerto Cisnes ainda em ripio. Aí o asfalto vai até uns 20 km após Villa Cerro Castillo. Daí em diante só ripio. Mas não há dificuldade para transitar pela Carretera, mesmo com veículos comuns, 4x2.
Após uma boa noite de descanso e um bom café da manhã deixamos nosso hostel. Nesta noite a temperatura baixou para perto dos -10 graus. Havíamos coberto os Defender com lonas para evitar acúmulo de gelo sobre os mesmos mas eles amanheceram congelados, como previsto. Levamos algum tempo para limpar os vidros, espelhos e portas dos carros.
Abastecemos na saída de Coihaique. Compramos um galão de 5 litros de fluído de arrefecimento com ponto de congelamento de -5 graus, que foi colocado parcialmente no 90, e saímos. O objetivo era chegar em Puerto Rio Tranquillo para um dos participantes da viagem fazer o passeio às Capillas de Marmol. Os outros 3 já conheciam este local, portanto iriam achar outra atividade para fazerem neste dia.
Após rodarmos uns 10 km o 90 abriu o rádio e informou que seu motor estava com temperatura alta, com o ponteiro batendo no vermelho do indicador. Imediatamente paramos e fomos ver o que havia acontecido. O motor havia fervido, realmente.
Para encurtar a história: apesar de termos conversado várias vezes sobre trocar o fluido do sistema de arrefecimento por um com anticongelante simplesmente não fizemos o que deveríamos ter feito. O 90 ferveu porque o líquido que estava no radiador congelou, mesmo com um pouco daquele fluído comprado em Coihaique. Quando o motor atingiu a temperatura de trabalho, de regime, a válvula termostática abriu e o fluído não circulou pelo radiador. Aí o motor ferveu.
Completando a história: dois dias depois o mesmo aconteceu com o 110. Só então resolvemos trocar o fluído nos dois veículos por um com anticongelante e adequado às temperaturas da região.
Esperamos a temperatura do motor do 90 voltar ao normal, batemos a chave e por sorte nada mais grave havia acontecido com o motor. Decidimos voltar a Coihaique e procurar um mecânico. Era feriado no Chile, portanto não encontramos ninguém trabalhando. Como o 90 havia voltado a funcionar normalmente (o líquido havia descongelado e voltou a circular pelo radiador), sem mostrar sinal de consequências do superaquecimento, decidimos ir adiante.
Perdemos umas duas horas neste assunto, portanto decidimos que iríamos dormir em Puerto Rio Tranquillo e não em um local próximo ao Glaciar Exploradores, como havíamos planejado.
Seguimos viagem. Subindo antes de Villa Cerro Castillo pegamos temperaturas muito baixas, chegando a -11 graus. Havia muita neve às margens da estrada e algum gelo sobre o asfalto. Tínhamos correntes para colocar nas quatro rodas das viaturas, mas vimos que nenhum veículo chileno as estavam utilizando. Pensamos: eles que são daqui sabem melhor que nós; se não estão usando as correntes é porque não há risco. Não as montamos, então, e não houve problemas.
Este trecho da Carretera, antes de chegar-se a Vila Cerro Castillo, é muito bonito. Fizemos várias paradas para fotos de lagos e cachoeiras congelados. Estava muito frio, realmente.
Paramos em Villa Cerro Castillo para tomar um café mas devido ao feriado e por não ser temporada estava tudo fechado. Seguimos adiante.
Alguns quilômetros mais adiante acaba a pavimentação e começa o rípio, pelo qual viajamos até o final da Carretera Austral, uns 400 km.
Andamos pelo rípio por algum tempo e subitamente o indicador de temperatura do motor do 110 disparou, cravando no vermelho. Susto! Paramos e abrimos o capô para ver o que estava acontecendo. Nada. A temperatura do motor estava normal, nenhum sinal de superaquecimento. O ponteiro estava maluco, subindo e descendo sem nenhuma lógica aparente. Após nos certificarmos que tudo estava normal, com exceção do marcador de temperatura, fomos em frente. E nada aconteceu por esta razão, realmente.
Suspeitamos de problema elétrico, lembrando do watchdog disparado desde o início da viagem, e depois confirmamos que era isto mesmo.
Mas que é estressante viajar vendo o ponteiro do indicador de temperatura indo para o vermelho e baixando, indo e vindo, indo e vindo, é. Nunca se sabe quando a leitura estará certa. E dois dias depois ela esteve...
Mais um resumo de história aqui: o problema elétrico do 110 era de aterramento. Mais tarde vimos que quando se apagava as luzes o indicador de temperatura marcava a temperatura normal, correta. Acendia a luz, o ponteiro subia; apagava a luz, o ponteiro baixava.
Chegamos em Puerto Rio Tranquillo, abastecemos novamente os Defender, completamos o óleo do motor do 110, que havia baixado um pouquinho, e achamos um hostel ali no centro mesmo, em frente ao Copec. Nos acomodamos. Um dos colegas foi correr enquanto os outros 3 foram a um ótimo restaurante onde comemos ceviche, cordeiro e congrio, tudo muito bom.
No final do dia tomamos um bom vinho chileno na sala de café do hostel, aquecidos por uma lareira. O hostel era bem simples, com banheiros apertados e quartos não muito bem cuidados. Tinha o necessário para descansarmos.
Não tínhamos pressa para acordar e nos prepararmos para sair neste dia. O colega que queria conhecer as Capillas fez o passeio de duas horas saindo às 10:00 h, e os demais foram conhecer a cascata La Nutria, no caminho para o Glaciar Exploradores. Esta queda d’água é bonita. Fica às margens da estrada, a ruta X-728, não tem como errar. O córrego que se forma após a cascata estava bem congelado. Interessante o lugar.
Retornamos à cidade, recompomos o grupo, compramos pães, frios e bebidas em um mercado para um lanche e zarpamos. Alguns quilômetros após Puerto Rio Tranquillo paramos sob a ponte que passa sobre o canal por onde o lago General Carrera deságua e forma o Lago Bertrand e ali fizemos nossa refeição. Estava um frio de rachar mas o lugar e a ponte são muito bonitos, valendo parar ali.
Continuamos nosso deslocamento com o objetivo de chegarmos a Cochrane. Passamos por Puerto Bertrand e fomos seguindo o maravilhoso rio Baker. Avistamos a confluência dos rios Baker e Nef da estrada mesmo, marcando este local para pararmos quando voltássemos. Cruzamos o rio Chacabuco, bem congelado, e fomos seguindo com o rio Baker à nossa direita, no fundo de um vale muito bonito. Este trecho da Carretera Austral só fica feio quando se chega a Cochrane, cidade que parece meio suja, meio abandonada.
Procuramos por um local para dormir e acabamos ficando em um ótimo hotel preparado para receber pessoal que vai a esta região para pescar salmões e trutas no verão. Caro mas impecável, quartos espaçosos, banheiros amplos e bem cuidados. Chama-se Ultimo Paraiso.
Saímos para jantar cedo, era umas 19:00 h. O restaurante que nos indicaram ainda estava fechado, mas uma quadra rua abaixo havia uma cervejaria artesanal. Acabamos indo lá e não nos arrependemos. A cerveja era muito boa e comemos uma entrada à base de carnes e uma pizza com salmão e outras coisas, bem bom.
Estava muito frio. Voltamos ao hotel, cobrimos os carros e fomos dormir.
Dia 23/06
O café da manhã foi o melhor que tivemos. Hotel caro, mas ótimo serviço.
Esta deve ter sido a noite mais fria de toda a viagem. Os carros estavam beeem congelados. Os limpamos raspando o gelo dos vidros. Completamos o combustível no Copec e fomos rumo ao sul, com a ideia de chegarmos em nosso destino neste dia.
Quem sai de Cochrane para o Sul pega já na saída da cidade uma longa subida. Fomos seguindo e o ponteiro indicador da temperatura da água do motor do 110 começou a oscilar, como já vinha fazendo desde antes de Puerto Rio Tranquillo. Só que dali a pouco, a uns 5 km da cidade, ele subiu e não desceu mais. Vimos que havia algo errado e imediatamente paramos. Desta vez o motor chegou a ferver, pela mesma razão já explicada do que aconteceu com o 90: congelamento dentro do radiador.
Esperamos baixar a temperatura e batemos a chave. Tudo certo, motor funcionou normalmente. Resolvemos voltar para Cochrane acompanhando a temperatura. Esta continuou oscilando muito. Chegamos na cidade. Procuramos por oficinas no Google e achamos uma, na saída norte da cidade. Não quiseram nos atender, “mucho trabajo”. Fomos a outra, mesma coisa. Fomos a uma terceira e o dono pediu que conversássemos com o mecânico. Já eram 11:00 h da manhã quando o mecânico chegou. Explicamos a ele que precisávamos ver se a termostática estava trabalhando corretamente e trocar o fluído, pois a ficha do congelamento finalmente caiu. Ele disse que de manhã não podia, que as 13:00 h iria almoçar, que voltaria às 15:00 h e aí veria se podia fazer algo... má vontade.
Decidimos então comprar o fluído correto e nós mesmo esgotarmos o sistema de arrefecimento, repor o fluído, sangrar e ver o que dava. Soltamos as mangueiras e fizemos o procedimento no 110 e no 90.
Com temperatura ambiente perto do meio-dia ainda abaixo de zero terminamos o serviço. Colocamos cerca de 10 a 11 litros de fluído em cada sistema, o que indicou que havíamos esgotado quase que completamente os mesmos, fizemos os expurgos e seguimos viagem.
Saímos de Cochrane e pegamos a longa subida novamente. Mais uma vez o ponteiro do indicador da temperatura do 110 começou a oscilar. Paramos e vimos que o que estava acontecendo era a falha elétrica. O motor estava com a temperatura correta. Fomos em frente, então, sem termos mais problemas.
Preguiça pode custar caro. Meses planejando, uma fortuna gasta preparando viaturas, roupas, hotéis etc. poderia ter sido jogada fora por pura negligência. Fica o recado. E ainda tivemos a sorte de não estourarmos os radiadores por conta do congelamento.
Havíamos planejado ir a Caleta Tortel e depois seguir até Villa O’Higgins neste dia. Por conta do atraso de 4 horas na saída de Cochrane deixamos Caleta Tortel para quando retornássemos e fomos direto para o fim da Carretera Austral. Tínhamos que chegar em Caleta Yungay a tempo de pegarmos a balsa do último horário do dia, que saía às 16:00 h. Não sei no verão, mas no inverno só há duas balsas por dia fazendo a travessia do canal.
A parte inicial deste deslocamento de 230 km não tem atrativos além, é claro, dos picos nevados que aparecem no horizonte. Lá pela metade do caminho chegamos a alguns lagos e ao rio Cochrane, que é continuação do Baker, e aí a paisagem fica mais interessante.
Logo após a saída para Caleta Tortel subimos uma serra íngreme, com um belo cânion acompanhando a Carretera. Do outro lado da serra está a travessia por balsa saindo de Caleta Yungay. Chegamos ali uns 45 minutos antes da balsa zarpar. Aguardamos dentro de um pequeno café onde pedimos umas bolachas e capuccino (era o que tinha). Não havíamos almoçado, a fome era grande.
Fizemos a travessia, que dura menos de uma hora e é gratuita. Chegamos do outro lado e fomos em frente. São mais 100 km até Villa O’Higgins, precurso que se faz em 2 horas. Um pó vulcânico que cobre o rípio atrapalha a visibilidade à noite, para quem pega um veículo à sua frente. É necessário algum cuidado neste último trecho da Carretera.
Às 19:00 horas entramos em Villa O’Higgins. Ela existe. Finalmente estávamos lá!
Havíamos feito contato com o dono de algumas cabanas para nos hospedarmos por duas noites em Villa O’Higgins, mas este não estava operando neste período de baixa temporada. Nos indicou outro, Cabañas São Gabriel. Conseguimos uma cabana com 3 quartos e 3 banheiros, bem equipada, por uns 120 Dólares para duas noites. Bom preço. Recomendado.
Fomos ao mercado do Daniel, dono da cabana, gente finíssima. Ele nos acompanhou até onde nos hospedamos e nos indicou restaurante para jantarmos. Estava fechado, como quase tudo no inverno. Em um mercado compramos pães, refrigerante e salsichas. Comemoramos a chegada ao fim da Carretera Austral comendo cachorro-quente.
Preparamos café na cabana e saímos para ir até o final da Carretera Austral, que fica a 7 km do centro da vila.
O dia estava claro, sol forte, sem uma nuvem sequer no céu (como todos os dias que passamos na Carretera).
Cruzamos o rio Mayer e fomos seguindo por sua margem direita. A Argentina estava ali, do outro lado do rio. Este trajeto é belíssimo, principalmente quando banhado de sol como neste dia. Paramos em vários pontos para fotos, para ver o Ventisquero Mosco, as pequenas cascatas congeladas que desciam do barranco ao lado da estrada e outras lindas paisagens.
Chegamos no Puerto Bahamondes, que marca o fim da Carretera Austral a 1.247 km de seu início em Puerto Montt. Mais um sonho realizado, chegamos a mais um clássico destino que se soma a Cusco, Machu Pichu, Península Valdez e Ushuaia.
Fomos algumas centenas de metros mais além até a uma pequena geradora de energia elétrica movida por uma turbina hidráulica, situada em uma pequena baía. Muito gelo e muita beleza neste local.
Retornamos à Villa O’Higgins. O amigo corredor quis subir o monte que há no lado leste da cidade, chegando até o ponto mais alto da trilha que há ali e de onde se avista toda a vila e os picos nevados que a cercam. Os outros três, menos atléticos, subiram somente até o primeiro mirante, fizeram algumas fotos e foram almoçar. O plano deles era ir até o Paso Mayer na parte da tarde, o que fizeram.
Saímos de Villa O´Higgins às 14:30 h. Logo após a saída da cidade, antes de cruzarmos o rio Mayer, pegamos a estrada que leva ao Paso de mesmo nome. É um trecho muito bom, com rípio bem batido.
No caminho passamos ao lado de uma linda propriedade chamada Estancia Las Margaritas. Vimos uma entrada à esquerda da rodovia onde um belo portal de madeira indicava o começo da estância. Entramos pensando que seria um hotel de luxo ou algo assim. Mais tarde vimos que é uma propriedade particular. Um político muito rico a comprou e a transformou em uma reserva não aberta a visitantes. Lá dentro vimos uma garagem com várias caminhonetes e veículos 4x4, motos, quadriciclos e uma enorme casa em madeira nobre, coisa de cinema. Fizemos a volta perto de um lago imenso e saímos antes de sermos enxotados.
Chegamos no posto fronteiriço do Paso Mayer depois de uma hora de viagem. Fomos muito bem recebidos por um dos 14 militares chilenos que lá vivem e controlam o Paso, como quem travamos uma boa conversa sobre a região e como é a vida deles ali.
As paisagens são maravilhosas. Um largo vale se estende entrando na Argentina, por onde o rio Mayer vai abrindo vários braços que mudam a cada ano, a cada época de degelo. O militar nos indicou qual seria o caminho para cruzar-se para o país dos hermanos e comentou que o final do inverno é a época mais adequada para passar de um país ao outro, quando o volume de água do rio é menor.
Nos disse também que a temperatura ali havia batido nos -28 graus recentemente. Acreditamos. Ainda havia sol, mas o frio já era intenso. Recomendou que fossemos até o lago Christie e que no caminho parássemos no Salto Perez.
Nos despedimos e seguimos em frente. Passamos por um pequeno lago totalmente congelado, onde nos divertimos jogando pedras de 2 ou mais quilos para vê-las ricochetear sobre o gelo e deslizar para longe.
Chegamos ao lago Christie, que é bonito mas não tem nada de muito interessante. Na volta paramos no mirante do Salto Perez e aí sim tivemos uma bela surpresa.
O salto fica do outro lado de um rio. É de altura razoável, talvez uns 8 metros, mas o que fez toda a diferença foi a névoa formada pela queda d’água congelada sobre os galhos das árvores, sobre a cerca do mirante, no piso de pedra. Uma visão única, magnífica, só vendo mesmo. Valeu o deslocamento. Quem for lá no verão vai ver uma queda d’água legal, mas no inverno é diferente do que vemos por aí.
Voltamos então para Villa O’Higgins. Como havíamos almoçado tarde fizemos um lanche na cabana, sempre acompanhado de bons vinhos. Mais tarde fomos ao mercado do Daniel para pagarmos pelo aluguel da cabana e nos despedirmos. Retornamos à cabana para nos prepararmos para iniciar a viagem de retorno no dia seguinte. Hora de voltar para casa.