BH – Foz do Iguaçu
Fizemos em dois dias. BH até o interior de SP (Marília) no primeiro e de lá até Foz no segundo. Quanto às estradas brasileiras, não há muito o que comentar. Afinal, as conhecemos bem. Rodamos foi com muita chuva no Paraná. Temporais que potencializam as características dos motoristas: os loucos ficam piores ainda e os medrosos também para o outro extremo. Ambos perigosos. Em viagens maiores ou mesmo as curtas, mas frequentes, a instalação de um uma etiqueta para cobrança automática em pedágios é uma ótima sugestão. Foram 1500 km.
Foz do Iguaçu – Resistência
Ainda respeitando a topografia da região, uma parte desse trecho tem estradas muito parecidas com as brasileiras: pequenas retas, aclives, declives, curvas mais fechadas. Os quilômetros iniciais acontecem dentro do parque e há diversos avisos (placas e cartazes) para que se tome cuidado com os animais que atravessam a pista. Vimos mesmo alguns e, por isso, é um trecho que exige atenção (principalmente à noite, imagino). Comprei algumas coisas em Puerto Iguazu para lanche e seguimos. Ah! Quem for usar a estratégia de não abastecer no Brasil e fazê-lo em Puerto Iguazu para economizar, prepare-se para longas filas nos postos e restrições quanto ao volume de combustível que pode ser comprado. Se tivéssemos feito isso, o atraso seria de mais de uma hora tranquilamente.
À medida que nos distanciamos da fronteira, as estradas começam a se tornar mais “argentinas”. Ainda não como no NOA, mas menos exigentes. Até Posadas, ainda na província de Missiones, muitos radares móveis. Ficam em veículos do tipo do antigo Fiorino ou Doblô encostados em alguns pontos da rodovia com a porta traseira aberta. Não sei se fui multado.
Nossa intenção era seguir viagem por mais algum tempo, mas algumas obras na pista e muito trânsito ao passar por Corrientes (congestionamentos consideráveis) nos fizeram pernoitar em Resistência, que fica logo depois. Foram apenas 631 km nesse primeiro dia. Adequados para o tempo que tínhamos: uma parte perdido ao atravessar a fronteira e outra nesse trânsito/obras que não foi previsto. Hotel muito bom e com comodidades que ajudam nesse tipo de viagem.
Resistência – Salta
E então fizemos a RN16 inteira. Centenas de quilômetros de uma grande reta. E percebe-se, sem muito esforço, que tudo vai mudando ao longo do deslocamento: vegetação, estrutura das cidades e de apoio, redução drástica de postos de combustíveis e diminuição considerável do fluxo de veículos. Se depender de restaurantes/lanchonetes/qualquer estabelecimento local, a alimentação pode ficar comprometida. Não é uma viagem cansativa do ponto de vista de exigência de atenção, mas isso traz algum risco: o cuidado com o sono ao volante. Dormir bem na noite anterior e/ou revezar a direção pode ajudar bastante.
Vale observar no canto superior esquerdo a distância até que algo seja feito.
Salta é linda. A chegada, à noite, já é um show, pois é possível ver a cidade do alto. Foram 800 e poucos quilômetros dessa vez e ficamos alguns dias por lá.
Salta – Cafayate.
Na chegada em Salta do comentário anterior, a mudança de relevo e todo o contexto que isso envolve já é perceptível. Mas a viagem até Cafayate é outro show. Passamos pelo Parque Nacional los Cardones, chegamos a Cachi e depois descemos até Cafayate. Não é o caminho sugerido em aplicativos de roteamento. É maior e mais demorado, mas é simplesmente SENSACIONAL. Como essa seção trata só dos deslocamentos, deixo para falar do que vimos depois. Aqui tivemos nosso segundo contato com a lendária RN40 (de próximo a Cachi até Cafayate) e o trecho, quase em totalidade, não é asfaltado. Rípio, terra, areia e pedras em partes distintas. Como a estrada acompanha a encosta das montanhas em muitos trechos, é diversão garantida para quem gosta de dirigir. Atenção para diversos momentos em que a passagem é apenas para um veículo, para as curvas fechadas e sem visibilidade de mão contrária e para as encostas/barrancos/despenhadeiros. Para quem é dos vinhos, já há algumas vinícolas nesse caminho. Destaque para a Colomé, que é um pouco mais afastada, mas tem vinhos excelentes. Vale planejar a ida. Menos de 400 km percorridos, mas que nos tomaram o dia. A velocidade média foi bem baixa. Também ficamos uns dias em Cafayate para conhecer a região e aproveitar os vinhos (talvez não nessa ordem de importância... hahaha).
Cafayate – Santa Maria – Tafí del Valle
Esse foi o dia em que erramos. Havia sobrado um dia que não contabilizamos no planejamento e, ao invés de seguir com o destino pensado, “inventamos moda”. Gastamos um tempo bom nas ruínas de Quilmes (vou falar delas depois com calma, mas sugiro fortemente conhecer quem passar por lá), fomos à Santa Maria, retornamos para Amaicha del Valle e seguimos para Tafí. Chegamos no destino final desse dia já no fim da tarde, debaixo de uma chuva torrencial. A estrada que liga Amaicha a Tafí del Valle tem paisagens belíssimas, que só vimos no dia seguinte ao seguir viagem. No dia da chuva, foi tenso, porque não se via muito à frente e as curvas acompanham também a encosta de montanhas. Menos de 200 km percorridos.
Tafí del Valle – San Juan
De Cafayate, seguiríamos para Mendoza. A previsão de 13:30 h direto exigia que parássemos do meio do caminho. O erro mencionado no trecho anterior estava aqui. De Cafayate, poderíamos ter parado em alguma cidade do meio do caminho (Tafí não atendia esse requisito) e de lá ido direto para Mendoza. No entanto, San Juan foi escolhido porque já estava próximo de Mendoza e poderíamos chegar lá antes do almoço, como realmente aconteceu. Enfim, esse trecho de Tafí del Valle para San Juan foi cansativo. Não faria de novo. Minha intenção era descer pela RN40 de novo, mas os aplicativos sugeriram outra rota. A 40 está em obras em alguns trechos e esse pode ter sido o motivo do desvio. Ficou como no mapa abaixo.
A RN150 é uma estrada nova e nos permitiu belas paisagens. Principalmente próximo e dentro do Parque Provincial Ischigualasto. Muito pouco movimentada, passamos mais de uma hora sem ver outro veículo sequer. Mais de 900 km e quase 13 horas no total. Chegamos cansados em San Juan.
San Juan – Mendoza
2:30 h e 170 km nesse pequeno trecho. Paisagem bonita e viagem tranquila. Chegamos às 11:30 h no destino. E ficamos por mais de uma semana lá.
Mendoza – Laboulaye
Nosso destino, partindo de Mendoza, era Buenos Aires. Mas, mais uma vez, a distância estava um pouco além do que a prudência recomendava. Paramos nessa pequena cidade e pernoitamos lá. Pouco menos de 600 km de deslocamento.
Laboulaye – Buenos Aires
Um trajeto que se inicia com grandes retas novamente e pouco movimento. Com o passar do tempo e proximidade de Buenos Aires no entanto, o trânsito ficou mais intenso, como esperado. Talvez devêssemos ter feito essa última parte em um domingo e não em uma segunda-feira como aconteceu. Talvez tenha sido o dia de mais ultrapassagens de caminhões e afins da viagem em solo argentino nos pouco mais de 500 km de deslocamento. Chegamos ao hotel já mais tarde e, embora ele oferecesse estacionamento (cobrado), não havia vagas de tamanho suficiente para a Ranger, que descansou por alguns dias em um estacionamento 24 h ali próximo.
Buenos Aires – Dionísio Cerqueira
Depois de aproveitarmos bastante BA por alguns dias, hora de voltarmos para casa. Mudamos alguns planos. Ao acompanhar o que acontecia na cidade em nossas andanças, vimos que as filas para testagem de COVID e nos hospitais (por motivos diversos, imagino) aumentavam dia após dia. Nas conversas com as pessoas de lá, os relatos de contaminação recente de conhecidos eram constantes e assistindo os noticiários, víamos que nossas percepções eram verdadeiras. Íamos para o Uruguai, mas a situação se repetia por lá. Outro fator considerado foi o custo de uma viagem para o roteiro básico Colônia – Montevidéu – Punta del Este. Estava tudo muito caro. Hospedagem e alimentação dispararam. Enfim, decidimos que íamos voltar.
A intenção era atravessar o Paso de Los Libres, chegar em São Borja e andar um pouco mais. Mas a viagem pelas estradas argentinas rendeu bem e ao percorrermos os menos de 900 km até essa fronteira, decidimos continuar e atravessar para o Brasil apenas em Dionísio Cerqueira. Eram mais 450 km. Encaramos, embora a pista que, era dupla até o Paso de Los Libres, tenha se tornado simples de lá até a fronteira em Dionísio Cerqueira. Foi nosso maior trecho em um dia.
Dionísio Cerqueira – Itapetininga
Pernoite em Dionísio e fomos até mais ou menos metade do caminho até BH. Deveríamos ter andado mais, mas não sabíamos o que nos esperava no último dia. Enfim, esses 800 km foram bem demorados. Muito trânsito, estradas sem bons pontos de ultrapassagem e comboios de caminhões nos atrasaram bastante. Chegamos tarde na cidade.
Itapetininga – Casa
740 km finais. Mas foram os mais cansativos e tensos. Minas estava debaixo de chuva forte já há alguns muitos dias. Choveu o tempo todo entre o hotel e a chegada em casa. Quanto mais nos aproximávamos de Belo Horizonte, mais as condições das estradas pioravam também. Interdições parciais e totais, trânsito lento, buracos, árvores na pista, barreiras que cederam, inundações e transbordamentos de rios. Cenários de filmes apocalípticos. Muito triste. Nos últimos 200 km, vimos dezenas de carros parados nos acostamentos trocando pneus, acidentes e desvios por estradas menores. Ficamos parados em filas por horas e fizemos desvios consideráveis para poder chegar em casa. Foram 5 horas a mais em relação à previsão inicial de viagem. Chegamos cansados demais, mas bem. E é isso que importa.
Já havia tempo, bastante tempo, que estávamos parados ali. E, se não tivéssemos tratado de voltar, teríamos ficado até o dia seguinte no mesmo lugar. Segue o link que trata da liberação da pista:
BR-381 e liberada parcialmente na ponte sobre o rio Paraopeba | O TEMPO
Exceto por esse último trecho, o restante de toda a viagem foi muito tranquilo.
Postarei o capítulo 2 à frente. Lá, voltarei a falar das estradas, mas nos deslocamentos que fizemos em busca do que a Argentina oferece de melhor.