A travessia da primeira fronteira terreste da viagem foi muito tranquila. Do lado brasileiro a Polícia Rodoviária Federal estava em greve e o Exército Brasileiro cuidava da segurança. Parei na aduana brasileira para me certificar se era necessário dar saída nos documentos e fui informado que por ser nacional era desnecessário. O único trâmite requerido era a entrada na imigração e aduanas uruguaias. A passagem pelas autoridades uruguais foi rápida, sendo que me exigiram a apresentação da carta verde, documentação do veículo, sendo que a aduana fez uma rápida inspeção na caçamba da camionete.
A obtenção de moeda uruguaia na fronteira é importante, já que há alguns pedágios na rodovia que nos leva ao sul do Uruguai. O abastecimento na fronteira, do lado do Brasil, é recomendável, já que o nosso combustível é melhor e mais barato que o uruguaio.
As condições das estradas uruguaias são excelentes. Me parece que tomaram especial cuidado no planejamento e execução das rodovias por lá. Talvez porque são também usadas como campos de pouso de aeronaves e portanto são largas e com grandes retas.
A minha L200 começou a mostrar sinais de que estava desalinhada, fruto do abuso cometido durante a travessia Cassino-Chuy pela praia, onde imprimi velocidade maior do que a recomendada para tal tipo de solo e por vezes decolei com a viatura por sobre os inúmeros arroios que existem pelo caminho. Me planejei para ficar uma noite somente em Colonia Del Sacramento e já pela manhã seguinte atravessaria para Buenos Aires e por lá levaria a camionete para uma revisão geral.
Aliás, se pudesse recomendar algo a futuros viajantes, deixaria a dica de passarem mais tempo no Uruguai. O país muito acolhedor, seguro e muito bonito. O percurso de Chuy até Colonia Del Sacramento perfaz cerca de 508 km e mesmo que se faça num dia somente, como eu fiz, vale a pena entrar em Punta Del Este e na capital para pelo menos tirar algumas fotos.
O final do trecho, entre Montevideo e Colonia Del Sacramento, se dá numa estrada praticamente reta e virada para o oeste, o que incomoda um pouco no final da tarde, com o sol poente baixando e atrapalhando a visibilidade.
Em Colonia Del Sacramento reservei uma noite no Hostel & Suites Del Rio, localizado no centro histórico da cidade e muito perto do Rio da Prata. Fui muito bem recebido pelo Pascoal, filho de mãe baiana e que adorava brasileiros. Ele prontamente me passou dicas de onde comer e tomar as melhores cervejas da cidade. Recomendo bastante provar a Zillertal, muito popular por lá e excelente. Só tomem cuidado porque no Uruguai e Argentina a garrafa possui 970 ml.
Não reservei a entrada do carro no Buquebus pela manhã mas também não tive problemas com isso. O procedimento é bastante tranquilo e a saída do Uruguai é feita dentro das instalações da empresa que faz a travessia. A chegada na Argentina também é feita de forma muito facilitada e só me cobraram a carta verde, sem vistorias no veículo.
Imediatamente fui procurar uma oficina para revisão geral da L200. Precisava arrumar a falta de alinhamento, trocar óleo e filtros. Do Brasil eu levei filtros de combustível, de óleo e ar suficientes para toda viagem, deixando para comprar os lubrificantes nos lugares por onde passava. A L200 3.2 DID tem a vantagem de usar uma ampla gama de lubrificantes desde que se respeita a faixa de temperatura de trabalho.
Chegando na Argentina tive um pequeno contratempo para localizar um lubricentro (oficina especializada em troca de oleo na Argentina) que pudesse me atender na região de Quilmes, perto da saída do porto. Isso porque havia baixado no celular o aplicativo Here N Go e sem sinal de internet ele se recusava a fornecer informações mais detalhadas dos estabelecimentos em Buenos Aires. Dai tive que primeiro arrumar um chip telefônico argentino para depois procurar um lubricentro. E dai surgiu um novo contratempo, pois fui informado que por ser estrangeiro teria que me cadastrar em alguma operadora de celular como meu passaporte para ter acesso a um chip na argentina. Não bastaria apenas comprar algum chip nos típicos Kioscos argentinos – lojinhas que você encontra em praticamente todas as ruas e que vendem de tudo um pouco. Orientado por um dono desse tipo de estabelecimento, me diriji a um grande hipermercado para poder providenciar meu acesso a internet numa lojada da Claro que havia por lá.
De posse de celular e internet, foi fácil localizar um lubricentro no Google Maps, sem antes reabastecer num posto YPF, usando diesel Infinia - o equivalente ao nosso S10. Chegando ao lubricentro, providenciei a compra de um galão de 20 litros de lubrificante Mobil 15w40 API CI4 e fiz a troca de óleo,filtros, engraxamento dos cardans e checagem geral do nível de óleo dos diferenciais, caixa de transferência e câmbio da L200. Finalizado o serviço, perguntei ao atendente se havia algum estabelecimento que pudesse realinhar a minha camionete e fazer uma busca por danos na suspensão. Me foi indicado um mecânico na Rua Andrés Baranda, mas que infelizmente estava fechado e não poderia me atender. Dai, logo nas proximidades, levei a L200 na Gomeria Corrientes –gomeria na argentina significa borracharia - para aproveitar a realizar o necessário rodízio de pneus da camionete.
Durante a realização desse serviço acabei tendo outro contratempo com a camionete. Durante a retirada das rodas foram quebrados diversos prisioneiros e eu não poderia continuar a viagem sem antes reparar isso. A sorte que os mecânicos da Gomeria Corrientes foram muito solícitos e imediatamente enviaram um funcionário a uma loja de parafusos e obtiveram peças de reposição para a troca. Fica ai então uma dica para os viajantes de L200: levem prisioneiros adicionais para aviagem porque é comum a quebra durante a retirada das rodas. Isso é fruto do mal procedimento realizado em oficinas no Brasil de se querer sempre usar pistolas pneumáticas para o trabalho, o que provoca danos e travamento das roscas. Substituídos os prisioneiros, também foi realizado o procedimento de alinhamento e rodízio dos pneus Pirelli MTR da viatura.
Diante da necessidade de vencer todos esses contratempos e do fato de eu ter me programado para ficar somente uma noite em Buenos Aires, sequer pude passear pela cidade. Me hospedei no Gilper Hostel que fica no centro, com várias facilidades por perto mas infelizmente sem estacionamento. Deixei a viatura num estacionamento pago próximo ao Hostel. Teria que descansar bem porque estava exausto de um dia praticamente gasto em oficinas e no dia seguinte o plano já era chegar em Bahia Blanca, a primeira cidade da famosa Ruta 3, que nos leva ao extremo sul do continente margeando o Atlântico.
CONTINUA NUMA PRÓXIMA MSG.