Patagônia - 14 mil km > Ushuaia, TDP, El Calafate, El Chalten, Carretera, Bariloche

[Gustavo Couto]

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Dia 15) Torres e retorno

Acordei às 5:50h para subirmos 1km e observar o sol nascendo na base das torres. Dayane e Ricardo não quiseram ir, fomos Marcus, Miguel, Eu e um amigo californiano que fizemos na caminhada, Taylor. A barraca estava toda condensada, pingando nas bordas, o frio era absoluto. No camping Base Torres passa um pequeno riacho no meio, as árvores fecham todo o ambiente, fica bem úmido e frio. Mas é um camping bem legal, eu ficaria novamente.

Iniciamos a subida, estava escuro mas a lua cheia ajudava na visibilidade, além das lanternas. Rapidamente o corpo esquentava e o frio já não estava presente mais. Outras pessoas subiam, mas fomos os primeiros a chegar lá. Antes de começar a fotografar Taylor e eu escolhemos um local para colocar a Gopro e fazer um time lapse do momento. Acabamos arrependidos do local escolhido, pois pessoas passaram na frente durante a gravação. Enquanto a Gopro fotografava fui escolher um lugar para me instalar e registrar as fotos. É um momento de contemplação então seria difícil ficar mudando de posição a toda hora.

Achei uma pedra bem localizada e posicionei a câmera. Eu levei o tripé no trekking, mas vacilei e esqueci a base da câmera no carro, a que se instala no tripé. Carreguei 1,5kg de graça. Então o jeito foi posicionar a câmera em cima das minhas luvas, para dar a posição que queria e não arranhar o equipamento. Então tive que deitar na pedra e experimentei o frio mais intenso que já tive. Estava congelante, mas não tinha o que fazer, era ficar ali e esperar. Enquanto eu tirava fotos antes do sol aparecer Marcus chegou e ficamos comendo amendoins e chocolate para passar o tempo.

O local estava cheio, havia diversos comportamentos distintos por lá. Uma pessoa tirando fotos com câmera analógica, fazia tempo que eu não via isso. Outro, amigo dele, estava com uma daquelas Polaroid, que revela na hora. Um espanhol escrevia um relato naquele momento, contava sobre o que presenciava ali. Outro com binóculos, entendendo que mais importante do que registrar era não perder qualquer momento com todos os detalhes possíveis. Sem contar as inúmeras selfies. Engraçado que todos conversavam baixinho, parece que de certa forma respeitavam a contemplação dos outros. Nesse silêncio era possível ouvir barulhos de gelos se rachando na base das torres e um pouco de água escorrendo.

O sol apareceu e foram sons constantes das câmeras funcionando. Registrei ângulos e enquadramentos que eu podia. De vez em quando conferia se a Gopro continuava trabalhando. Foi um momento muito legal, diferente, a luz era fantasiosamente laranja, cor de fogo. É algo impressionante de ver, é rápido, uns 20 minutos apenas.



Depois das fotos, eu já quase congelado, achei Taylor, que tinha levado uma garrafa témica com água quente. Pedi um pouco da água e fiz um chá mate com pêssego para ajudar a esquentar o corpo. Iniciamos a descida, satisfeitos. Fui conversando com o espanhol, de Barcelona, torcedor do clube da cidade e fã de Ronaldinho Gaúcho.

Cheguei no camping, Dayane já tinha guardado a barraca. Viajar com a Dayane é algo muito prazeroso, topa tudo, não reclama e age quando percebe que pode ajudar adiantando algo, uma vez que uma viagem dessa todo tempo é importante para fazer algo relevante para tornar a viagem mais eficiente e proveitosa. Minha esposa.

Fizemos café da manhã e iniciamos o retorno para finalizar o trekking. A sensação já era de despedida, pois o caminho de volta era o mesmo que fizemos, então não havia nada de novo mais. No total caminhamos 93km. Chegamos no hotel Las Torres e pegamos o transfer para esperar o ônibus na portaria Laguna Amarga.



Ficamos duas horas na portaria, cansados e comendo queijo com mortadela, era o que tinha sobrado do trekking. O ônibus chegou, até o carro era o trajeto por dentro do parque. Depois de cinco dias caminhando entre gelos e florestas densas me estranhou bastante aquela paisagem árida, cor bege, típico de um deserto, mas TDP estava logo ali ao lado.



Finalmente chegamos ao carro, alegres de sentar em um banco que foi feito para isso, sentar. Guardamos as coisas e saímos sentido El Calafate. Tiramos fotos do entardecer e fomos premiados com uma paisagem espetacular do maciço paine, no qual o sol já se pôs e o ceú em degradê contornava as montanhas. Foi um presente de despedida.



Optamos por uma hospedagem de luxo, um hotel com cama e banheiro com água quente. Paramos em uma lanchonete El Calafate, comemos um sanduíche e pedimos ao atendente que nos recomendasse um hotel. Negociei pelo telefone e fomos até lá. Era um hotel de bom padrão, em frente ao lago Argentino, ficamos animados em ficar lá, depois de tanta situação de zero conforto que passamos, frio, comida ruim e dormir no chão. Nossos amigos pegaram um quarto triplo, Dayane e Eu pegamos um de casal. Abrimos um vinho que comprei em Ushuaia e comemoramos a façanha de fazer um dos trekkings mais bonitos do mundo.

[Adelmo86]

Acompanhando...
Uma viagem gratificante aos olhos, parabens pelas fotos.

[Gustavo Couto]

Dia 16) El Calafate

O hotel foi uma escolha muito assertiva (ao lado direito do carro na foto). Depois de vários dias andando e dormindo em barraca de chão foi uma noite completa. Há dias não tínhamos um café da manhã pronto, arrumadinho para aproveitar, e bem farto, algo que não é tão comum em hotéis pela Patagônia. Em frente ao hotel estava o lago Argentino, o maior da Argentina, formado pelo degelo dos glaciares.



El Calafate, que leva o nome da fruta típica da Argentina, é bastante charmosa, tem um turismo bem completo e a cidade é bem preparada. No entanto, os preços de tudo por lá são extremamente caros, bem fora dos padrões brasileiros. A cidade fica em uma região bem isolada, em volta de um deserto muito bonito, cor bege e montanhas.




A ideia inicial era fazer o passeio de catamarã nesse dia, para visitar os glaciares Upsala e Spegazzini, mas o preço era muito caro, algo em torno de 350 reais por pessoa, exagerado demais. Então decidimos não fazê-lo e compramos o passeio em cima do glaciar Perito Moreno, para o dia seguinte. Esse é o tipo do passeio imperdível, então não dava para cortar, mas fazer os dois seria muito fora do orçamento.
Então aproveitamos o dia para conhecer a cidade, andamos pelas lojas, compramos alguns presentinhos para familiares, alfajores, etc. Três coisas que não me esqueço da Argentina que são fantásticas: o “cordero asado”, o doce de leite (é a melhor iguaria de lá na minha opinião) e o alfajor (que é recheado de doce de leite). Almoçamos uma pizza de ovo espetacular em uma pizzaria que não me lembro o nome. Aproveitamos para realizar câmbio em uma “parrilla”, pois não há casa de câmbio na cidade. Depois de um dia de relaxamento voltamos para o hotel e entregamos as roupas para a lavanderia.
A expedição foi idealizada junto com o amigo Jefferson (The Jeff), mas não foi possível seguirmos juntos por incompatibilidade das datas. De qualquer forma, acompanhamos a localização de cada um durante a viagem, foi no mesmo mês. Jefferson fez o percurso contrário ao meu, descendo pela Carretera Austral, então desta forma chegamos em El Calafate no mesmo dia. Combinamos nos encontrar em uma “parrilla” para comer um “cordero asado”. Chegamos à noite na churrascaria e na entrada estava Loïc, o francês que eu tinha dado carona até Ushuaia. Nos cumprimentamos e conversamos um pouco.
Finalmente nos conhecemos, pois o projeto junto com o Jefferson foi todo conversado e planejado via whatsapp, então foi uma oportunidade muito bacana para nos encontrarmos e colocar o papo em dia, e claro, aproveitei para pegar algumas dicas do roteiro que ele já havia feito. Foi bem divertido e agradeço ao Jefferson por ter provocado essa possibilidade de fazer a Patagônia de carro, algo que sempre sonhei mas sequer ainda tinha colocado no papel. Um abraço ao amigo Jefferson e quem sabe não nos encontramos por aí em outra expedição por esse mundão.



Depois de ter comido bastante nos despedimos, voltamos ao hotel e descansamos para o próximo dia.

[Gustavo Couto]

Acompanhando...
Uma viagem gratificante aos olhos, parabens pelas fotos.

Obrigado Adelmo!

[Gustavo Couto]

Dia 17) El Calafate/AR - El Chalten/AR

Acordamos cedo, às 6h da manhã. Tínhamos que dirigir por 80km até o glaciar Perito Moreno, para pegar o catamarã e atravessar o lago para fazer a caminhada sobre o gelo. O GPS, para variar, me mandou para uma estrada de rípio, mesmo sabendo que havia uma estrada asfalto até a entrada do parque. De qualquer forma, gosto de aproveitar e explorar um caminho alternativo, então aceitei a sugestão. Ainda estava escuro, pois amanhece por volta de 8:15h. Durante esse percurso fiquei espantado com a quantidade de coelhos atravessando as estradas o tempo todo, às vezes um grupo de 10 ou 15 juntos. É uma espécie típica da patagônia. Por sorte não atropelei nenhum.

Chegando no glaciar a vegetação muda completamente. Dirigindo ainda ao redor do lago Roca, pegamos curvas fechadas, nas quais a velocidade diminui para 60km/h. Após entrada no parque o mirante do glaciar já aparecia e o céu estava com coloração rosada, por causa do amanhecer, estava muito bonito, o céu e o glaciar embaixo. Não tirei a foto, pois estávamos preocupados com o tempo, mas me arrependi, pois chegamos uns 20 minutos antes do início. É uma das fotos que gostaria de ter trazido comigo.

O preço do passeio foi em torno de 350 reais por pessoa, achei bastante caro. É algo que dificilmente farei novamente, e a ideia de andar no glaciar de maior extensão territorial do mundo gerava sensação de exclusividade e seria frustrante voltar sem ter explorado ao máximo essa visita. Ao estar nesse lugar sabendo que as geleiras representam o maior volume de água doce do planeta você sente a imponência e o que elas representam em termos de magnitude. Segundo informações do local a geleira se desloca 30 metros por dia, a parte inferior da geleira (que neste caso tem uma profundidade de 170 metros) é mais lenta que a parte superior (até 70 metros, um prédio de 23 andares), criando essas fendas na parte superior. O movimento da geleira faz com que ela transporte sedimentos desde o início, é possível perceber tipos de rochas que não são do local, é o glaciar que traz. Ela leva 400 anos para percorrer o trajeto até a ponta. É tudo muito impressionante.

Pegamos o catamarã e atravessamos o lago, para caminhar sobre a geleira do outro lado.



O grupo se dividiu em dois, um em espanhol e outro em inglês. Depois das instruções seguimos para colocar os crampones nos pés, para garantir aderência no gelo.



Como há muita variação na formação da geleira a trilha se modifica bastante, então tem um dos guias que anda na frente conferindo o percurso. A caminhada é leve, é algo bem no aspecto experimental mesmo, mas ficou a sensação de que poderia ter sido mais. No final fomos agraciados com um chocolate recheado de doce de leite e whisky, temperado com o gelo do próprio glaciar. Achei a estratégia de encantamento do cliente bem interessante. É realmente prazeroso tomar um whisky naquele frio, e em cima do Perito Moreno.



Terminamos o passeio, agradecemos os guias e aguardamos até a chegada do catamarã. Enquanto isso experimentamos a famosa fruta calafate, havia pés bastante carregados em frente à área de descanso. A fruta tem tamanho, textura e cores parecidas com uvas cabernet sauvignon, sabor um pouco azedo. A boca, língua e dentes ficam todos pintados de roxo ao comer.



Pegamos o carro e seguimos para o outro lado do glaciar, para apreciar outra perspectiva do Perito Moreno. Na verdade, era a que eu mais tinha ansiedade por ver. Como eu já esperava, sentir a geleira é mais impressionante do que simplesmente ver. Os barulhos eram constantes. Ouvia barulhos de rachaduras, seguidos por um som de cachoeira, como se a água represada encontrasse uma fenda, até finalizar. Em seguida um som estrondoso, como um trovão, quando um pedaço da geleira se rompia e caía no lago. É simplesmente impressionante!



Depois de muita contemplação e muitas fotos, pegamos o carro e seguimos para a cidade, desta vez fui por asfalto. Almoçamos uma pizza de ovo, calibrei os pneus e seguimos em frente, sentido El Chaltén. Queria chegar de dia para pegar a paisagem do cerro Fitzroy, mas chegamos ao anoitecer. Era uma paisagem bonita também, o cerro contornando o céu azul escuro. Nossos amigos Marcus e Ricardo compraram passagem de ônibus para Bariloche, que sairia no dia seguinte. Fiquei no camping El Relincho, muito bom, tem área de convivência, protegida do vento, com cozinha, mesas, calefação e wifi. Os banheiros também eram bons, água quente e volumosa. Em frente ao camping há um minimercado. Nesse dia não abastecemos, pois o percurso era curto até o próximo posto de combustível.

[Gustavo Couto]

Mais uma foto que ficou faltando do Perito Moreno.

[Glaicon]

Mais uma foto que ficou faltando do Perito Moreno.

Fabuloso.
Mais que Ushuaia, este é o local que quero levar a família.

[thejeff2003]

EXCELENTE RELATO!! Muito bom amigo, Parabéns..

[Gustavo Couto]

Fabuloso.
Mais que Ushuaia, este é o local que quero levar a família.

Realmente esse lugar é mais magnífico. O problema que andar pela Patagônia é uma overdose de paisagem, uma mais bonita que a outra. Difícil até escolher o que é melhor.

[Gustavo Couto]

EXCELENTE RELATO!! Muito bom amigo, Parabéns..

Perfeito Jefferson! Valeu demais pela companhia aí no planejamento da expedição.

Que venha a próxima!

[Cimarron]

Sinceramente eu e minha esposa estamos conversando sobre esta viagem a um bom tempo mas somente agora conseguimos adquirir um carro para isso, mas temos uma filha a caminho então vai ficar para depois.
Achei o máximo o seu relato

[sandro_ventania]

Essa viagem está nos meus planos a mais de 5 anos...e provavelmente só a farei a daqui a mais 5!
A principal razão...quero fazer tudo isso bem devagar...quero levar meses...apreciar cada cantinho até enjoar de olhar!
Quero ter uma overdose de paisagem, como disse o Gustavo!
enquanto a viagem não vem...só tenho a agradecer aos amigos que compartilham tantas fotos lindas! Isso mantém a chama viva!