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Postado originalmente por
Ciro Alencar
Bom dia, meu querido Enrico. Que bom encontrá-lo por aqui compartilhando conosco a sua experiência.
Eu concordo parcialmente com você. Acho que você está certo em dizer que essa questão do biodiesel não é a única culpada do aumento de problemas de motores diesel em caminhonetes, e que a adulteração, a concentração de água e outros fatores que prejudicam diretamente o diesel são talvez até mais preocupantes.
O biodiesel é um problema administrável, quem usa bastante a caminhonete não deve ter muitos problemas, mas quem usa pouco, esse pode experimentar muitas dificuldades, assim como equipamentos agrícolas e máquinas industriais como geradores elétricos, por exemplo. Será necessário um controle do diesel depositado no tanque e no sistema de forma geral com aditivos ou até substituições programadas. Eu vejo alguns clientes sofrendo com essa dificuldade do diesel "apodrecendo" mais rapidamente. Mas, eu acho que isso é algo administrável.
Eu tenho uma boa amizade com um engenheiro da Petrobrás, e ele é categórico em afirmar que essa concentração de biodiesel no S10 não é uma coisa boa, que fizeram muitos testes e constataram sim mais problemas em motores, inclusive de caminhonetes. Ele acha que não deveria haver nada de biodiesel no S10, mas se houver, que não deveria passar dos 8% pelos testes que ele fez.
Eu vejo muita gente reclamando de problemas causados pelo biodiesel em nossa região, pelo menos numa proporção maior do que antes. Tem um vídeo no youtube onde uma empresa de transportes fez um teste com, se eu não me engano, 15% de biodiesel, e o resultado foi um aumento significativo de problemas na frota. Sei que experiências como esta podem ser suspeitas, eu mesmo acredito muito pouco no que vejo no youtube hoje, então prefiro me orientar pelo entendimento deste amigo, especialista em combustíveis e que realiza muitos testes nessa direção.
Além disso, a tipicidade de uso de cada região influencia no comportamento do motor. Por exemplo, como eu uso caminhonete muito em estradas, nunca tive necessidade de fazer regeneração do filtro DPF. Mas, conheço gente que roda muito em cidade, em baixas velocidades e com uma faixa grande de rotações que realiza o procedimento de limpeza com uma frequência bem maior.
Você conhece isso, sabe que rodar em estrada é uma situação diferente de rodar na cidade, e o que pode ser problema para um, não é para outro. É como uma embreagem de um câmbio manual que dura até 40.000 km na cidade e mais de 100.000km em trajetos rodoviários, freios, etc...
Eu acho curioso a sua experiência ser ligeiramente diferente do que eu já me informei, do caso que o Edu citou da mecânica de motores diesel de sua região e do que estou acompanhando em inúmeros sites que denunciam duramente as consequências dessa mistureba que nos empurram goela abaixo.... ops... tanque abaixo... kkkk....
Recentemente um amigo veio tentar me convencer que o nosso combustível não é caro em relação a muitos países. Eu mostrei pra ele que ele estava errado, pois os países que ele citou vendiam gasolina e diesel, então a comparação com as nossas misturas não tem lógica. Quando você pede ao frentista do posto de abastecimento colocar gasolina no seu carro, o correto seria ele dizer que não tem, porque o que ele tem na verdade é uma composição de gasolina de fato com álcool. O mesmo vem ocorrendo com o biodiesel.
Li uma reportagem recentemente do aumento dos problemas em carros importados que funcionam com gasolina, e que estão apresentando até problemas mecânicos com a nossa "misturinha" aqui.
Mas, apesar de achar que o biodiesel é um problema real, que merece a nossa atenção e cuidados, e de ter uma experiência com o aumento dos problemas mecânicos decorrentes disso, eu acho que a questão da adulteração, de água, como você citou, deva ser uma preocupação maior. Eu mesmo tenho muito cuidado onde eu abasteço. Como viajo muito mas com destinos 90% repetidos, eu tenho a minha "rede" confiável de abastecimento, e não é achismo, eu busco comprovar de fato se um determinado posto, movimentado ou não, com combustível caro ou barato, com bandeira ou sem, novo ou antigo, de estrada ou de cidade, se ele é realmente confiável.
Já vi gente dizendo para abastecer sempre em postos muito movimentados, principalmente por caminhões, porque eles sabem quais são confiáveis. Isso é bobagem, já vi postos de estrada que viviam com filas serem lacrados em fiscalizações de qualidade de combustível.
Seu segundo ponto é de um caráter mais "político", e eu tento fugir disso a qualquer custo. Mesmo tendo uma família e muitos amigos ocupando cargos importantes na política, eu acho isso um nojo, porque sei muito bem como funciona.
Essa decisão de aumento da concentração de biodiesel não tem nada de interesse ambiental. Apesar do nosso constante atraso em relação às políticas de redução de emissão de poluentes, essa questão ambiental já está equalizada hoje. Os atuais motores a combustão emitem níveis de poluentes muito baixos hoje e pouso preocupante, o que é preciso é atualizar a frota.
Estamos caminhando rápido para a eletrificação de veículos, o que já chega também nos modelos utilitários, temos ainda soluções bem adiantadas como os motores de hidrogênio. A Toyota tem feito um trabalho bem interessante nessa direção do hidrogênio. Então logo teremos essa questão ambiental praticamente esquecida. O maior problema ambiental hoje não é a emissão de poluentes de motores a combustão, isso é pura política. Tem coisas bem piores do que isso matando o mundo.
O aumento da participação do biodiesel no diesel mineral tem um interesse político muito forte, que não entrarei em detalhes por razões óbvias, mas, meu amigo, não acredite em tudo que falam, esse país está podre na sua base, apesar da imagem diferente que tentam mostrar. Há uma estratégia política bem definida com essas mudanças de combustível, e o interesse ambiental é o que menos motiva essas ações.
Eu apresentei para um influente político um trabalho feito a quatro cabeças de gente que sabe o que fala, mostrando que a renovação da frota é possível e mais barata do que circular com veículos velhos, mas o que eu ouvi foi estarrecedor. Tudo é motivado por interesses próprios, nunca coletivos. Isso desanima demais.
Outra coisa interessante é que, se formos fazer uma pesquisa, vamos encontrar todo tipo de "especialistas" com informações das mais divergentes possíveis. Alguns sugerem colocar 5 litros de diesel comum na hora de abastecer o tanque com S10, porque o alto teor de enxofre do diesel comum é um bactericida eficiente. Outros dizem que o ideal é usar um bom aditivo, e eu já encontrei opinião de gente que respeito sugerindo não usar nada.
Eu acho que a nossa grande questão aqui é identificar os reais riscos e buscar as melhores ações preventivas hoje disponíveis, mas, até entender o alcance do problema e como ele se manifesta, isso só com o tempo...
É, meu amigo... a coisa é mais complicada do que parece, e o pior, menos técnica e mais política. O problema técnico fica pra mim, pra você e quem mais pode tentar ajudar, o filé mignon fica para eles... que não fazem p... nenhuma que presta.