Um jipe para durar para sempre
No mercado desde 1948, o valente Land Rover
mudou muito pouco, mas mantém fãs incondicionais
Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação Nos anos 40, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Rover -- empresa de Solihull, Inglaterra, fundada em 1884 para fabricar bicicletas -- precisava retomar a produção de automóveis, mas enfrentava a escassez do aço para as carrocerias. Maurice Wilks, engenheiro chefe da empresa e irmão de seu presidente Spencer Wilks, utilizava Jeeps norte-americanos em sua fazenda e percebia que não havia substituto para eles.
O primeiro Land Rover, em 1948: faróis atrás da grade, estepe sobre o capô, motor
de 1,6 litro e extrema simplicidade interna. No alto o modelo 1959, já da série II
A marca decidiu então projetar um utilitário tão valente e robusto quanto, com a particularidade de empregar uma liga de alumínio chamada Birmabright. Nascia ali o Land Rover. Com dimensões similares às do Jeep, o primeiro protótipo tinha três lugares e volante central. O modelo de produção foi lançado no Salão de Amsterdã, em abril de 1948.
Com entreeixos de 80 pol (2,03 m) e motor de 1,6 litro a gasolina dos automóveis Rover P3, era simples, robusto e confiável. A tração 4x4 era permanente, mas havia roda-livre para o eixo dianteiro, e os faróis estavam protegidos atrás da grade. Já no ano seguinte surgia uma perua. Três anos depois o motor passava a 2,0 litros e em 1954 recebia um entreeixos mais longo (86 pol, 2,18 m), com opção para uma versão estendida de 107 pol (2,71 m).
Motor a diesel, maior cilindrada, variedade de carrocerias: as novidades foram várias, mas do modelo 1959 (ao lado) até hoje o Land Rover conserva sua essência
O Land Rover fez mais sucesso do que se poderia esperar. Durante décadas a marca vendeu tantos jipes quando podia produzir -- e muitos deles permanecem em atividade hoje, isentos de corrosão na carroceria e esbanjando vitalidade. Foi largamente utilizado no exército inglês, incluindo os derivados Forward Control e Lightweight (leve), este desenhado para transporte sob o helicóptero Wessex. De 1981 a 1986 e em 1988/1989 seria o carro oficial do severo rali Camel Trophy, realizado também no Brasil.
Em 1957 surgia a oferta de motor 2,0 a diesel, com novo aumento do entreeixos em 2 pol, e em 1958 chegava a série II, com melhoramentos no estilo. No ano seguinte surgia uma versão perua de 10 lugares. A série II-A, produzida de 1961 e 1971, é considerada clássica pelos fãs por já trazer correções dos principais problemas sem perder sua essência.
Um picape também foi desenvolvido, assim como peruas de 10 e até 12 lugares. Todos com a particularidade da carroceria de alumínio, que surgiu da escassez de aço após a Segunda Guerra
Os motores a gasolina e a diesel cresciam para 2,25 litros e, em 1962, a perua passava a oferecer 12 lugares para se isentar de impostos, pois era classificada como microônibus... No fim dos anos 60 os faróis mudavam da grade para os pára-lamas, atendendo a legislações de segurança, e o motor a gasolina chegava a 2,6 litros.
A próxima fase, série III, recebia grade dianteira plástica, painel revestido com instrumentos concentrados atrás do volante, novas portas e capô. O câmbio vinha com as quatro marchas sincronizadas. A milionésima unidade era feita em 1976 e, três anos depois, chegava a série III Stage I (estágio 1), fruto do programa de desenvolvimento que levou às atuais versões Defender 90 e 110.
A série 3 Stage I, lançada em 1979, já trazia os elementos básicos do atual Defender. O motor tinha 6 cilindros e 2,6 litros, a suspensão usava molas helicoidais e a tração 4x4 era permanente. O modelo da foto tem chassi longo, com entreeixos de 109 pol
O motor de seis cilindros e 2,6 litros então em uso dava lugar ao V8 de 3,5 litros do Range Rover -- utilitário de luxo da marca, lançado em 1970 --, com potência reduzida para 92 cv, em função da estabilidade precária, e 23,4 m.kgf de torque. A tração integral era permanente, com diferencial central, a suspensão usava molas helicoidais e a direção tinha componentes do Range.
Essa série ficou no mercado até 1985, quando abriu espaço para a geração atual, renomeada Defender em 1990. Esta vinha com entreeixos de 92,9 pol (2,35 m), 110 pol (2,79 m) ou 127 pol (3,22 m), capota rígida ou de lona, versão perua e motores V8 3,5 a gasolina e 2,5 de quatro cilindros a gasolina ou a diesel. Em 1998 o motor 2,5 turbodiesel tornava-se padrão na maioria dos mercados.
O modelo militar da série 1 e o Defender atual, no mercado desde 1985: essência mantida
Nestes 53 anos o Land passou por várias crises da Rover -- foi comprada pela British Aerospace em 1988, pela BMW em 1994 e pertence à Ford desde julho de 2000. Mudou pouco, mas parece apto a permanecer ainda longos anos no mercado internacional, oferecendo robustez e valentia a seus fãs incondicionais.